Sobre o método de transcrição

Transcrição relativa


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Folclore Musical

O método de transcrição utilizado é uma variação do proposto por Bartók para grafia de melodias folclóricas. A função principal deste método é clarificar a estrutura melódica de cada peça, o que abre a possibilidade de comparar e agrupar distintas melodias.

A notação musical se resume a alturas e ritmos. As alturas estão todas transpostas a uma nota finalis comum, sol, estando a finalis original indicada no princípio da partitura. Importante indicar que finalis aqui significa a última nota da melodia, e não a fundamental de uma inferida tonalidade da melodia.

Não é utilizada armadura de clave, todos os acidentes são indicados (salvo repetição no mesmo compasso). Além disso, a transcrição não considera mudanças de registro, pois visa representar o contorno melódico em abstrato. Tais mudanças de registro são comuns por exemplo em toadas de catimbó, em que é frequente que uma melodia cantada por um mestre (voz masculina) seja respondida por um coro em que se destacam vozes femininas.

Em geral optou-se por não anotar fórmula de compasso. Esta só é utilizada se a rítmica da melodia o exige (por exemplo, se um compasso binário aparece inserido no meio de uma melodia de rítmica ternária). Assim, uma melodia (neste caso, CM2) que transcrita literalmente se anota:

Em transcrição relativa se anota:

Sobre a partitura são indicados o registro (limite superior e limite inferior) e as cesuras (separações entre seções da letra, marcadas com o grau em que cadenciam). Seria redundante marcar a última cadência, visto que esta sempre será no primeiro grau.

No caso desta última partitura, o registro se anota IV-4 e a forma cadencial como [1 [1] ♭3] (primeira cesura no primeiro grau, cesura central no primeiro grau, última cesura no terceiro grau rebaixado). Os graus são nomeados da seguinte maneira:

Por fim, uma sequência de números separados por vírgula indica a forma estrófica da melodia. 8, 8, 11, 11, por exemplo, indica uma forma de 4 seções, com duas seções de oito sílabas e duas seções de 11 sílabas. Um único número, 12, indica 4 seções isométricas, com 12 sílabas cada.

Quando a melodia se repete com outra letra, novos versos são separados por uma indicação em números romanos. Traços (- - - -) indicam repetição de um ou mais versos anteriores. Por exemplo (CM2):

 

I.
Minha Santa Teresa
Me abri'us camin'
- - - - - - - -
- - - - - - - -
Eu venhu da Jurema,
Eu sô Mestre Malunguin'
- - - - - - - -
- - - - - - - -


II.
Minha Santa Teresa
Me abri'us portão
- - - - - - - -
- - - - - - - -
Eu venhu da Jurema,
Com meu sino-Salamão.
- - - - - - - -
- - - - - - - -

etc..

As três informações juntas, forma estrófica, forma cadencial e registro, funcionam como um perfil geral da melodia. A melodia CM1, por exemplo, pode ser representada como:

Forma estrófica Cesuras Registro melódico
8, 8, 11, 11 [1 [1] 1] VI-4

A partir deste perfil é possível comparar várias melodias distintas e agrupá-las, buscando características em comum.